a marca dos meus sentimentos deveria ser como pegadas... domingo, outubro 31, 2004 |
É noite, olho o céu e procuro a Lua. Tenho vontade de a ver e de estar com ela. Encontro-a lá em cima, cintilante e a brilhar. De resto, como sempre esteve e sempre a vi.
Esmoreço.
- Não era assim que te queria ver, não como sempre te vi…
Às vezes gostava de ser a criança que já não sou, ou de, pelo menos, sentir como a criança que já fui.
Gostava de poder ver todas as coisas pela primeira vez, gostava de poder ver todas as coisas com a curiosidade de quem nunca as viu. Mais: gostava de ter a capacidade de poder não sentir algo de novo, mas antes, de sentir, de todas as vezes, algo como novo.
Gostava, mais que sentir tudo de todas as maneiras, sentir tudo da única maneira que ainda não senti.
Tendo por sentimento a sensação que algo provoca em nós, a maior parte das vezes eu já não sinto, apenas recordo a sensação guardada em mim por mim que esse algo me provocou. É isso o que sinto, e como é insípido sentir desse modo. Recuso-me a sentir assim, recuso-me a re-sentir…
O conjunto de sentimentos deveria ser como um trilho de pegadas deixadas na areia, em que cada pegada fosse a marca de um sentimento diferente: deixávamos as pegadas, que seriam apagadas em seguida e que, por mais que quiséssemos, não conseguiríamos duplicar.
Era assim que eu sentiria caso dispusesse da capacidade de esquecer como senti algo, era assim que eu gostava de sentir: à medida que sentisse o que quer que fosse, esquecia que o tinha sentido desse modo para poder sentir uma vez mais como novo. Assim nunca caminharia por trilhos já trilhados. Mas não conheço, ou disponho, ou procuro dispor, de tal capacidade, tão forte como as forças do mar e dos ventos, que me permita esquecer o que senti de determinada maneira…