Tu, no espelho onde me vejo
Olho o espelho. Uma figura, nítida o suficiente, parece olhar para mim. Desvio o olhar. Olho-a nos olhos. Esta frontalidade incomoda-me, escondo-me. Procuro o espelho, e ela ameaça aparecer de novo. “Quem és tu, e porque me persegues?”, pergunta ela. “Isso gostava eu de saber”, digo-lhe. “Eu sou tu”, responde.
- Tu és eu? E como pode isso ser?.. questiono eu. - Só existo um eu, e esse sou eu! Como dizes que és tu?
- E quem és tu?
- Ora! Sou eu! Não me vês?
- Vejo. E esse que tu vês sou eu, ou melhor, és tu. Eu sou esse tu que tu vês, e eu não vejo. Eu só te vejo a ti e tu só me vês a mim.
- Não! Estás enganado, eu vejo-me a mim! Nem te vejo, nem te conheço! Eu só posso ser uma pessoa, que tu não és. Tu podes ser tu, mas não és eu! Não podem existir duas pessoas iguais. Podem existir duas muito semelhantes, mas não passa disso, semelhanças.
- E quem te disse que somos iguais? Por acaso já te viste a ti? Não serei eu quem tu vês no espelho, e não tu?
Saí. Toda esta conversa, que não passava de baboseiras, estava a deixar-me desconcertado. Ele também não se despediu.
“Por acaso já te viste a ti? Não serei eu quem tu vês no espelho, e não tu?”. Apesar de tudo, esta questão perturbava-me realmente.
Mas não serei eu apenas uma só pessoa, não terei eu apenas uma só imagem? Se não, quantos mais eu existirão? E serão todos iguais uns aos outros, ou serão todos diferentes, de mim e deles próprios? E ele? Quantos ele existirão?
Ele só existe ele, mas eu existem muitos. E a ele só o conheço eu. As outras pessoas não o conhecem a ele, conhecem-me a mim.
E com as outras pessoas, acontecerá o mesmo? Quantos eu existirão para elas? Assim como para mim só existe um elas, para elas só existe um eu, o seu eu, diferente do meu eu e do eu de outra pessoa.
Então, ninguém me conhece, pelo menos como eu me conheço. Só conhecem a sua representação do que eu sou, e eu só conheço a minha. E mesmo que tentassem transmitir-me a sua representação do que eu sou, nunca me poderia conhecer com eles me conhecem, apenas conheceria a minha representação da sua representação do que eu sou.
Por certo eu existo, e diferente de cada, em cada um que me conhece, e em cada um que me só viu. Eu sou tantos quantos as pessoas que me conhecem e que me viram. E como posso ser tantos e ser eu ao mesmo tempo?... ser eu e ser tantos ao mesmo tempo é a mesma coisa…
Como poderemos então gostar de alguém, mesmo conhecer alguém se ela pode ser tantas pessoas diferentes? Não as conhecemos, nem gostamos delas. Conhecemos e gostamos do que elas são para nós. Assim como elas conhecem e gostam do que nós somos para elas.
Olho o espelho. “Tu de novo?”. Sorrio.
- Gostava de me conhecer como tu me conheces…
- Eu também., diz a figura.
E saio.
NOTA: ideia original in Um, Ninguém e Cem Mil de Luigi Pirandello.
4:26 da tarde
Pois é ...quem seremos nós se para cada pessoa somos uma pessoa diferente?Não sei se já te aconteceu uma pessoa descrever-te com caracteristicas que tu achas que não tens...(ou será que temos mas não conseguimos ver??)É estranho não é?Pensa-se logo:"O quê?eu sou isso??"...aqui fica um dos muitos mistérios do ser humano;)
Mindinha*
P.S.- E essas féris?Espero que tejas a curtir mt!Pelo teu post dos concertos parece que sim...;p Ah!diria que os estupefacientes têm um efeito...libertador;p top
10:34 da tarde
sim, realmente já aconteceu (por várias vezes, até) descreverem-me e dizerem que eu tenho certas características que eu penso que não tenho... mas, secalhar temos mesmo e não nos apercebemos!
as férias... ñão estão a ser más! :) têm tido momentos bons, outros nem tanto!
espero que estejas, ou tenhas, uma vez que agora começam os exames mais uma vez, gozado as tuas em pleno! :)
*beijinho* top
4:13 da manhã
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu top