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Recordações: segredos de um porvir

São muitas as recordações, as que irei esquecer, e as que nunca hei-de lembrar. Como uma árvore e as suas folhas. Fecho os olhos. E, em segredo, relembro aquelas que, num outono, hão-de cair.

  • folhas de outras árvores

  • folhas no chão

    outros ramos

    soundtrack to your escape

    Venice Carnival quarta-feira, fevereiro 06, 2008 |


    "Man is least himself when he talks in his own person. Give him a mask and he will tell you the truth." - Oscar Wilde

    Novidades - Exposições sábado, janeiro 26, 2008 |

    Está, desde dia 3 de Janeiro e até dia 4 de Fevereiro a decorrer a exposição de fotografia "Gentes e Locais", do Clube Coimbra no deviantART, no Café com Arte (link);
    Está, também, desde dia 15 de Janeiro a decorrer outra exposição de fotografia do mesmo grupo no Ateneu de Coimbra, esta intitulada "Fraternidade, Cultura, Sociedade e Solidariedade" (link).
    Eu faço parte do presente grupo e tenho expostas fotografias em ambas as exposições (duas no Café com arte, e quatro do Ateneu). As minhas fotos expostas, entre outras, podem ser vistas aqui. Desde já, os meus agradecimentos a quem for visitar. Obrigado!

    "O Sapateiro Do Norte" terça-feira, agosto 14, 2007 |

    Olhas o céu pela noite e ao observar as estrelas lembraste, porque leste numa qualquer revista, que algumas das estrelas que vês a pontilhar o céu, qual picotado que fazias na escola primária, não existem. E sentes-te confuso: como poderá algo que vês, que poderias tocar se os teus braços esticassem até lá, não existuir? E dizem-te que devido às estrelas se encontrarem a milhões de quilómetros de distância, a imagem delas demora a chegar aos teus olhos, e demora tanto, que quando chega realmente, e a vês, a sua fonte já se extinguiu, à igualmente muitos milhões, mas de anos aqui. E sentes-te infinitamente pequeno, ao ponto da imperceptibilidade, neste espaço do infinitamente grande. Dizem-te então para que estiques a tua compreensão e imaginação, em vez dos braços, e ver como é possível tocares as estrelas, mesmo que, como leste, já não existam. E sentes-te maior, infinitamente pequeno, mas maior.
    Ouves esta música e prestas atenção aos acordes, e, mais atentamente, ao modo como os juntaram e ligaram nesta música, e nesta em especial. E é como se os já tivesses ouvido, mas noutra música, ligados de outro modo, daquele modo subtil que te fez não reparar. Pensas para ti que esta música não existiria nunca se as violas tivessem uma sétima, ou oitava corda, mais graves. E enquanto o pensas, ficas satisfeito e radiante por as violas terem seis, e seis cordas apenas. Nem sete, nem oito. Transpões este pensamento para as pessoas e perguntas-te se aquela pessoa existiria se não se tivesse escondido do que não se dizia, e se aquela outra existiria se não tivesse feito das palavras um amontoado de pedras esquecidas no lugar entre o coração e a boca. Questionas-te ainda se o teu vizinho do primeiro esquerdo existiria sem aquela alma enfraquecida, e se aquela senhora do autocarro existiria se não viesse carregando, com as suas mãos enrugadas, aqueles sacos das compras. E sentes que o teu vizinho reclama por um esteio, e que a senhora necessita de um ferro de engomar – talvez ela levasse um escondido num dos seus sacos, pensas tu quando lhe sorris. E, como com a música, ficas radiante que assim seja.
    Voltas a ouvir esta música, prestando agora atenção à letra. Notas que, apesar dos teus conhecimentos de inglês serem bastante razoáveis, não consegues apreender uma grande parte do que é proferido. Gostavas de conhecer a letra, mas devido à forma como é dita, parece-te mais um instrumento, a juntar á viola de seis cordas, e ignora-la como letra da música. Ignora-la mas, não sabes porquê, ela lembra-te um excerto que adoras, de um teu conhecido, que diz «Como são belos os guarda-fatos. Cada cabide, um mostro social que nos aperta as entranhas e nos diz: ‘Hoje serás as riscas desta camisa.”. A luz quebrada, não sei se a óleo se eléctrica, risca-me o ombro até à cintura. Uma parte de mim está na penumbra, a outra parte está num espelho.»
    Pensas isto e recordaste de um sonho que tiveste enquanto falavas com um teu colega de turma: o de conhecer todas as combinações possíveis entre as palavras do léxico português. Ficas radiante, à medida que acrescentas mais umas combinações às que já conheces, com a possibilidade de concretizar esse sonho, que sabes, no entanto, e à partida, ser inatingível.
    Escreves tudo isto e apercebes-te de que te sentes espectador. Que, se a vida é um teatro, como ouviste dizer, tu te sentes o espectador que não pagou bilhete para ver a peça. Tens o desejo de irromper pelo palco e ser actor, mas a maior parte das vezes preferes assistir apenas, da fila da frente. Sabes que nem sempre és actor, mas sabes também que é redundante uma actuação para público nenhum, mesmo que seja apenas um.

    Perguntas-te se te encontras na penumbra, ou no espelho.
    E continuas, como fazias, sem o saber, no entanto, na escola primária, a picotar as tuas ursa-maiores e estrelas polares no teu caderno; e a trazer para mais perto o teu sonho.

    Amanhece lá fora sexta-feira, junho 01, 2007 |

    Vozes roucas ecoam pelos abismos que nos separam, e as palavras ficaram surdas ao que nos consegue unir. Não estamos para ouvir o que não se quis dizer, e há ainda um vasto dialecto que espera construir-se, adquirindo e dando significado às coisas.
    Os sentimentos atropelam-se num carrossel em que entrámos na condição de crianças, e do qual não pretendemos sair se não quando se nos esgotarem as moedas. Essas, porém, perdem-se lá no fundo dos nossos bolsos rotos do uso e nós temos que nos servir da destreza e maleabilidade inerente às crianças para manter o carrossel em movimento, permitindo-nos ao riso, à alegria e ao afecto.
    Agora os confrontos multiplicam-se e a teimosia e impede-nos de partilhar as nossas moedas. Mas eu careço das tuas moedas e, mais que isso, necessito que precisas das minhas.
    Quero partilhá-las contigo, trocar-me, transfigurar-me e renovar-me contigo. Mas já não as repartimos há algum tempo que hoje não sei como o fazer.
    Amanhã, pois antes de amanhã não saberia como partilhá-las. Amanhã desdobramo-nos, trocando-nos e partilhando. Amanhã, se ainda for cedo.

    dói-me segunda-feira, maio 21, 2007 |

    mais que a tua ausência, a tua presença ausente.

    de volta terça-feira, abril 17, 2007 |

    há já algum tempo que não "publico" nada de novo no blog. nem neste, nem no sapo. aliás, vou cancelar o blog do sapo e vou continuar com este, sendo que os próximos post que vier a "publicar", os irei publicar aqui. espero que desta vez consiga, e tenha vontade de manter o blog mais actualizado. vou fazer por isso pelo menos.
    esta é a última mudança de casa, de volta às origens, mas, com certeza, irão ocorrer mais mudanças de visual.

    enquanto isto, abri um conta no devianART, passem por lá.
    o link está também na secção "folhas de outras árvores".

    onde é que eu já vi isto? |

    a vida é um rio....

    por vezes vivo na margem.

    naufrágio |

    sinto-me náufrago...
    é melhor deixar as coisas na margem, parece que nunca soube muito bem nadar.

    de todos os dias |

    ouço o despertador tocar: são 8h27. acordo, mas não me levanto. adio por mais um pouco o início do dia. por fim, encho-me de coragem e ergo-me da cama. procuro-me no sofá e perguntou-me de que me vou vestir hoje. é indiferente, penso, desde que me tape. pego nas calças e na camisola de ontem, amarrotadas e com vincos do que tenho sido. olho-me no espelho e reconheço-me em alguém, na pessoa que olhou o espelho ontem. visto-me sempre com as mesmas peças de roupa, só me mudam as riscas.
    ao sair de casa encontro-me com o meu vizinho de baixo. dou-lhe os bons dias, por educação, e ele responde, pelo mesmo motivo. não sei que opinião tem ele acerca do que penso dele. vou pensando nisso e continuo a caminhar. dobro a esquina e, à medida que o deixo de ver, esqueço-me dele e do que vinha a pensar.

    mais à frente, duas senhoras que conheço de vista, põem em dia a conversa matutina. não posso deixar de ouvir, assim que me cruzo com elas, um pouco da conversa. pareceu-me estarem a falar do tempo. não do tempo que passa, mas do tempo que faz. queria-lhes perguntar pelo outro tempo, aquele de que não falam... não o pergunto, mas elas respondem assim que as olho. há quanto tempo usarão elas aquelas roupas?
    dirijo-me ao minimercado e, mais uma vez, por educação e conveniência, dou os bons dias a quem quiser ouvir. responde-me quem quis responder. olho a senhora atrás da caixa registadora e, antes que tenha tempo de abrir a boca e fazer o meu pedido, ela pergunta: "são viagens?". detenho-me no pedido que ia fazer e respondo que sim, são.
    sento-me na paragem do autocarro e espero pelo primeiro que passe, pode ser que me sirva. entro no segundo que passa.
    no regresso a casa volto a lembrar-me do meu vizinho e do seu ar triste, para logo me esquecer.
    é noite e vou deitar-me: dispo-me para cima do mesmo sofá de onde me levantei pela manhã e caio na cama.
    penso no tempo que passa e no tempo que fez. em como é fácil apanhar um autocarro, bastando para isso esticar o braço ou, esperar que alguém o tenha feito. penso no porquê de ter esperado que alguém carregasse no botão "STOP" no autocarro para sair na paragem onde me convinha sair. penso nas senhoras que conversavam.
    penso na senhora que não me deixou pedir as viagens... e espero que amanhã as possa pedir eu.

    nova casa domingo, maio 21, 2006 |

    este blog tem nova casa,
    e talvez desta vez se escreva nele

    with each passing moment we drift further away... quarta-feira, janeiro 19, 2005 |


    ...if i could sleep forever would you still be in my dreams?

    antípodas onde nunca chegarei... sábado, janeiro 15, 2005 |

    Á vida é um caminho que se conhece à media que se o traça, e que se traça à medida que se o percorre. Não um caminho já traçado que se percorre apenas.
    Vou caminhando o meu, que me trouxe a esta bifurcação. De resto, como tantas outras que a esta me trouxeram, e como outras tantas que a outras me leverão.
    Procuro-me auxiliar no meu mapa, mas ele é só lembranças das anteriores e em relação a esta, apenas me pode ajudar na medida em que, como sempre, terei que optar por traçar uma continuação do meu caminho, deixando qualquer uma das outras por traçar.
    Por vezes, porém, penso como seria a outra qualquer continuação, penso como seriam as antípodas... Raramente sinto que não deveria ter optado pela que optei, ao invés, sinto que deveria ter optado por uma que não a que optei. Nestes momentos, talvez gostasse de poder voltar, de voltar mesmo, atrás e mudar a minha escolha, não porque tivesse curiosidade em conhecer, em traçar, uma das outras continuações, mas porque achasse que iria preferir traçar qualquer uma das outras à que escolhi traçar.
    Mas, acaso, iria mudar o meu destino?..
    Esse não se pode mudar: não há outro com que o possa fazer: só existe o que escolhemos percorrer, todos os outros, aliás, como o que escolhemos mas com a diferença de não terem sido escolhidos, não são mais que hipotéticos caminhos que, porque não foram esolhidos, não deixaram de existir, apenas não existiram.
    Destino não é ser, é estar sendo, não é o fim do caminho já traçado, é caminhando-o até a ele chegar.
    É ter que optar e percorrer, é a contínua escolha do desconhecido pelo desconhecido e o consequente conhecimento, e essa sou eu quem faço e quem percorro.

    calceteiro do esquecimento domingo, janeiro 02, 2005 |

    Passeio pela rua do esquecimento, permitindo-me a fazer ressoar o eco diferente de cada passo meu em cada uma das pedras que dela fazem parte. Por vezes, caminhando sem prestar especial atenção por onde, piso algumas, fazendo-as ecoar, por mais vezes do que as que gostaria. Mas, se as piso, mesmo que sem intenção, é porque elas se lá encontram e, se elas se lá encontram é para serem pisadas ecoando por toda a rua, é esse o seu objectivo. Além de ser esse o seu propósito, se as posso pisar, é porque as lá coloquei, porque pretendi que, num dado momento, elas servissem de caminho a meus passos.
    Sou eu quem escolho as pedras que vão continuar a minha rua. Sou eu quem lhes dou a forma para elas encacharem, mesmo umas nas outras. E sou eu quem as lá coloca.
    Mas, à parte de quem as coloca, es sou também essas pedras, porque elas expressam momentos em que eu fui. E, assim como não sou sozinho as pedras da minha rua, sou também parte das que dão caminho a outras ruas.
    Porém, sou eu que caminho na minha rua, e sou eu quem, porque posso escolher as pedras que dela fazem parte, lhe dou uma direcção, que é só uma, a que na altura eu escolhi.
    Sou eu quem caminha, quem me coloca, quem pisa e quem sou pisado. E sou eu quem me ouve ecoar...

    Natal domingo, dezembro 26, 2004 |



    Natal é quando quem quer que seja faz de nós o seu presente.
    -Eduardo Sá

    alguém apanhou as minhas uvas, enquanto eu as deixava amadurecer (?...) domingo, dezembro 12, 2004 |

    nostalgia

    ----------------------------------------------------------------------------------
    substantivo feminino
    sentimento de tristeza motivado por profunda saudade (...).
    (Do gr. nóstos, «regresso» +algos, «dor», pelo fr. nostalgie, «id.»)

    © Copyright 2003-2004, Porto Editora.

    O processo de trazer à memória emoções que sentimos num presente que não é aquele em que as trazemos, o processo de recordar, a nostalgia e a saudade, não deviam ser sentimentos sinónimos associados à tristeza...
    Sentimos tristeza porque, ao relembrar, ficamos com consciência que no momento em que lembramos não nos é possível ser protagonista de uma qualquer acção (semelhante à que lembramos) que nesse presente momento despoletasse em nós sentimentos de felicidade, que mais tarde estariam acessíveis para podermos trazer para o presente, como lembranças; de outro modo, não recordaríamos, "actuaríamos". Isto provoca-nos tristeza, é certo, especialmente quando relembramos emoções que nos deixaram felizes.
    Mas, se ao relembrar emoções que nos deixaram tristes (o que é raro que aconteça) ficamos igualmente tristes, relembrar emoções que nos deixaram felizes devia deixar-nos, igualmente, felizes (o que é ainda mais raro).
    É possível. Basta para isso, no momento em que recordamos, não ficar tristes porque apenas recordamos, mas ficar felizes porque temos essas recordações que podemos recordar, que nos dizem que naquele momento o fomos. E sabermos que fomos felizes, não significa, necessariamente, que nessa altura em que recordamos não o sejamos.

    Mas saber no presente que fomos felizes no passado, apesar de não ser sinónimo de que já não somos, também não é suficiente para nos deixar felizes nesse presente...

    (e isto tudo faz-me lembrar a história da raposa que, porque não consegue chegar às uvas, diz para ela mesma que estão verdes e não vale a pena apanhá-las, deixando-as amadurecer; isto é, se nenhuma mais alta as apanhar antes delas estarem maduras.)

    o que não te consigo prometer... |

    uma-dessas-manhãs-nostálgicas, ?? de um-qualquer mês de 2004
    querida tu-sabes-quem-és,
    Sonhei contigo hoje… pareceste-me tão perto e tão presente. Ou… não tão ausente como quando estás próxima.
    Antes, quando estavas longe sentia-me de dois modos diferentes. Triste, por não te poder tocar, e feliz, por saber que dentro em breve te poderia beijar.
    Agora, que quase todos os momentos que tenho contigo são nas minhas memórias, ou nos meus sonhos, sinto-me igualmente desses dois modos. Triste, por ser quase só nesses locais, e esses momentos que passo contigo, mas feliz por os poder passar aí, nessas memórias. E estas, estas andarão comigo para onde quer que eu vá.
    Não fico triste por serem “apenas memórias”. Já estive. E, se estive triste por serem apenas memórias foi porque não encontrei maneira de fazer com que deixassem de ser “apenas memórias”, foi porque não encontrei modo de criar outras semelhantes. Agora, o facto de as poder recordar deixa-me feliz, porque as pude criar… contigo.
    E quantas promessas eu te fiz, e tu a mim. Umas cumpri(das), outras não. Mas mais importante que as ter cumprido ou não, foi tê-las feito. Por ser esse o desejo na altura, por saber que ao fazê-las iria um coração preencher, e um sorriso provocar. E nada mais era necessário.
    Porém, há uma que nunca te farei. Não te prometo que não me vou esquecer de ti. Não te vou prometer algo que sei que vou cumprir. Ou melhor, não te consigo prometer algo que não tenho como não cumprir. E por isso te prometi o céu e a lua, por saber, ou por não saber se tos poderia dar. O meu desejo era esse, mas não sabia se o poderia cumprir. Sabia que te prometendo, isso bastava para te fazer sorrir, e isso bastava para me fazer sorrir a mim.
    Só gostava que pudesses saber o quanto foste, e continuas a ser, importante para mim. Mas não é com estas palavras (que, certamente, nem vais ler) que to posso mostrar. Nem com outras… mas acho que já to disse por tantas vezes… pelo menos de cada vez que te olho faço por to mostrar...

    April Left With Silence sábado, dezembro 04, 2004 |



    silence,
    silence was the last word we spoke
    it filled the air heavy with forevers
    and the failing smells of yesterday
    "this wasn't my intention..." is now a haunting...
    the ghost of whispering thoughts
    i've bled these nights dry with tears
    so, here's to sleepless cold and dreams of insecurity
    and like before, i'm left with silence and the sound of a heart breaking
    its' pieces crumble to the floor
    promise falls quiet between stillness and silence.
    i hear your voice say, "my child, i will pick up the pieces."
    ...promise falls quiet between stillness and silence.

    :Hopesfall:

    o meu relógio de areia sem fundo sexta-feira, novembro 19, 2004 |

    Há alturas em que o tempo passa por mim como num relógio de areia sem fundo, em que a areia cai e não há nada que a segure, em que a única certeza de que caiu é a de ela já não estar no compartimento superior. A areia cai devido à força da gravidade, e não há fundo que seja obstáculo à sua queda, fazendo-a parar.
    A única maneira de saber que o tempo passou (por nós) é guardando pedaços dele em nós, mesmo que o que tenhamos guardado dele seja termos guardado nenhum. E, afinal, as memórias não são senão pedaços de tempo que, porque lhe depositámos determinada carga sentimental, pudemos parar para guardar em nós.
    Nessas alturas, o tempo passa e a única certeza que tenho de que ele passou é a de não ter guardado algum em mim…
    Por esta razão, apetecia-me, por mais vezes, poder parar o tempo… parar o tempo como que para me poder certificar que ele passou onde eu estive e que, por isso, realmente, me afectou. Certificar-me que o tempo passou por mim não porque teve que passar, mas porque guardei em mim pedaços dele, que não são nenhuns. Asseverar-me que as lembranças que tenho não são as de que não tenho outras recordações senão estas.
    Gostaria, por mais vezes que as que sou, ser fundo do meu relógio de areia sem fundo.

    apathy is a cold body... |


    open the eyes, look at this wall and notice the one that borrows and steals.

    crystal clear, i can see the rose is frail... sábado, novembro 06, 2004 |


    just wither away, real beauty is forever

    a marca dos meus sentimentos deveria ser como pegadas... domingo, outubro 31, 2004 |

    É noite, olho o céu e procuro a Lua. Tenho vontade de a ver e de estar com ela. Encontro-a lá em cima, cintilante e a brilhar. De resto, como sempre esteve e sempre a vi.
    Esmoreço.
    - Não era assim que te queria ver, não como sempre te vi…

    Às vezes gostava de ser a criança que já não sou, ou de, pelo menos, sentir como a criança que já fui.
    Gostava de poder ver todas as coisas pela primeira vez, gostava de poder ver todas as coisas com a curiosidade de quem nunca as viu. Mais: gostava de ter a capacidade de poder não sentir algo de novo, mas antes, de sentir, de todas as vezes, algo como novo.
    Gostava, mais que sentir tudo de todas as maneiras, sentir tudo da única maneira que ainda não senti.

    Tendo por sentimento a sensação que algo provoca em nós, a maior parte das vezes eu já não sinto, apenas recordo a sensação guardada em mim por mim que esse algo me provocou. É isso o que sinto, e como é insípido sentir desse modo. Recuso-me a sentir assim, recuso-me a re-sentir…

    O conjunto de sentimentos deveria ser como um trilho de pegadas deixadas na areia, em que cada pegada fosse a marca de um sentimento diferente: deixávamos as pegadas, que seriam apagadas em seguida e que, por mais que quiséssemos, não conseguiríamos duplicar.
    Era assim que eu sentiria caso dispusesse da capacidade de esquecer como senti algo, era assim que eu gostava de sentir: à medida que sentisse o que quer que fosse, esquecia que o tinha sentido desse modo para poder sentir uma vez mais como novo. Assim nunca caminharia por trilhos já trilhados. Mas não conheço, ou disponho, ou procuro dispor, de tal capacidade, tão forte como as forças do mar e dos ventos, que me permita esquecer o que senti de determinada maneira…

    sometimes, we ought to unleash the child within us... |


    ...and feel like one.

    sonho de uma tarde de outono... sexta-feira, outubro 29, 2004 |

    Era meio-dia, e o sol brilhava lá e cima. Nesse dia, Silvestre havia-se levantado mais cedo e, tendo saído de casa mais cedo, dirigira-se para o jardim, onde já se encontrava. Não tinha almoçado, um nó no estômago que sentia deixava-o desconfortável ao ponto de não ter apetite. O encontro era apenas às 13h, assim o tinham marcado. Mas Silvestre decidiu-se por ir mais cedo para o local de encontro. Assim poderia espairecer, poderia pensar no que lhe iria ser dito. E aquele contacto com as árvores e o ar puro faziam-no, como sempre fizeram, sentir tão bem ou, pelo menos, melhor. Apesar disso, Silvestre sentia-se irrequieto, olhando reflexamente para o seu relógio de pulso, no qual o tempo parecia não ser contado.
    Lá ao fundo ouvem-se as folhas a estalar, alguém as pisara. Silvestre olha para de onde lhe pareceu vir o som, e senta-se. Ela chega.
    - Boa tarde.
    - Boa tarde., responde Silvestre.
    - A partir de hoje nunca mais nos vamos olhar do mesmo modo?.., pergunta-lhe ele, em jeito retórico. Ao que ela não responde, limitando-se a olhá-lo como quem pede desculpa por algo contra o qual não pôde fazer nada para evitar.
    - Que me queres dizer?, pergunta Silvestre.
    - Queria dizer que já não dá mais…, respondeu ela, olhando para Silvestre na sua imagem reflectida na água.
    - Não dá mais?.. mas como assim?..
    - Não sei que te dizer… acho que… é melhor terminar…
    - Entendo, disse Silvestre em tom irónico… Esta frase provocara nele a sensação de vazio. Prosseguiu:
    - Tu só gostaste de mim enquanto te sentias bem ao meu lado… aliás, tu não gostaste nunca de mim, tu gostaste de como te sentias quando estavas comigo. Gostar de como eu me sentia quando estava contigo nunca foi tua prioridade… se é que chegou sequer a ter lugar… preocupaste-te em fazer-me sentir bem enquanto tu te sentiste.
    - Não é isso, é que…, tentou ela responder.
    - Espera, interrompeu Silvestre. E, continuando, monologamente:
    - Percebo agora, tu nunca me amaste, pois não pode haver tão grande egoísmo em amar alguém.
    - Amei, sim…
    - Não!, Amar alguém não é gostar muito de alguém porque essa pessoa nos faz sentir muito bem, é, antes, fazer com essa pessoa se sinta bem, porque gostamos muito dela. Amar alguém não é querer que alguém seja feliz ao nosso lado, é mais do que isso, é querer apenas que essa pessoa seja feliz. Tu só te preocupaste em eu ser feliz enquanto tu o foste ao meu lado…
    Calou-se. Não tinha pensado o que tinha acabado de dizer. E, sentados lado a lado, pensavam ambos no que ele tinha dito.
    - Sabes – disse Silvestre passado um tempo –, talvez tenhas razão, é melhor mesmo terminar.
    Levantou-se, preparava-se para ir embora. Beijou-a na testa e, olhando-a nos olhos, disse-lhe:
    - O que mais quero é que sejas feliz. Eu sempre, e para sempre te amei… nunca me esquecerei de ti. E saiu.Inês viu-o ir-se embora, não respondeu. Ficara sentada a olhar o lago, relembrando os dias em que a sua felicidade dependera da de alguém…

    sabe bem voltar a casa... sábado, outubro 09, 2004 |

    acordo. é sexta feira, e ainda é cedo. no entanto, a ansiedade e a vontade de ir a casa no fim de semana é já grande.
    são quatro horas da tarde e já não tenho mais aulas, posso agora prosseguir e ir de regresso a casa.
    estou em casa. aumento o volume e ouço aquela música, que são tantas, bem alto... "rebobino" a música, e sorrio.

    can i turn back domingo, outubro 03, 2004 |


    ?
    sometimes i wish i'd find a way to turn back time...

    the end of heartache sábado, outubro 02, 2004 |


    i mourn for those who haven't met you

    sinto o ar expirado na pele e isso assegura-me de que vivo |

    hoje não é um desses dias...

    P.S. - Há dias em que se acorda sem a ajuda do despertador, em que dormir mais tempo que o tempo suficiente para o restabelecimento da nossa energia e das nossas funções orgânicas, é prodigalidade. Há dias em que, logo após acordar, nos olhamos no espelho e vemos, a olhar para nós, alguém a sorrir por razão que desconhecemos, e lhe retribuímos o sorriso. Há dias em que só aquelas memórias que nos esforçamos por não esquecer parecem fazer parte do nosso livro de recordações, e as relembramos sem o precisar de abrir. Há dias em que o sol não parece pôr-se, em que as estrelas não parecem deixar de brilhar. Há dias em que caminhamos despreocupadamente, e mesmo que sozinhos, nos sentimos acompanhados. Há dias em que caminhamos como se não houvesse gravidade, em que dançamos como se não estivesse ninguém a ver, em que cantamos como se ninguém nos ouvisse. Há dias em que ao passar por um canteiro, nos deter ía-mos diante de uma flor, a cheiraríamos, e sorriríamos. E, acaso libertássemos uma lágrima, seria apenas para que com ela, o arco-íris pudéssemos partilhar.

    out from the shadows and into the real world sexta-feira, outubro 01, 2004 |


    (take my hand and lead the way)

    freedom sábado, setembro 25, 2004 |



    a segunda página |

    procurei, e procurei, mas não encontrei mais espaço em branco onde pudesse continuar a escrever. a primeira página, de um lado e do outro, estava escrita.
    pensei em fechar o diário e abrir outro. mas, reconsiderei, e arranquei-a. ainda tenho tantas páginas em branco, resolvi inaugurar a segunda. não sei quanto tempo durará esta. e o mais certo é que mais tarde arranque esta também e inicie uma terceira, e uma quarta páginas, e por aí em diante. por agora, só consigo escrever nesta. apesar das seguintes se encontrarem em branco, só nesta é que os contornos das palavras se mostram.
    até à próxima página...

    crime em figueira (mãe e tio assassinam filha) sexta-feira, setembro 24, 2004 |

    ...

    ... antes por ali, que não tem regresso. sexta-feira, setembro 17, 2004 |

    Procuro-me na bifurcação do tempo, e não me encontro. Defronte de mim, diferenciam-se dois trilhos. Um, que me leva onde pretendo ser o que não fui; e o outro, que me traz de onde não pretendi ser quem não sou. São várias as saídas e entradas também, que me conduzem para onde, não me achando, sempre estive, para de onde vim.
    É sinuosa a jornada, ainda mais para quem, no momento de escolha, quem decide é a indecisão de quem não sabe de onde veio. Ou será que não se opta e se aceita apenas caminhar num deles? Não. Neste emaranhado de veredas todos os problemas se nos colocam como inequações em que a solução depende das opções que tomamos, e mesmo aceitar caminhar num deles é uma opção.
    E como será, tantas vezes quantas as que se quiserem, optar por um em detrimento do outro? Gostava de o saber…
    Mas desta vez não vou por aí, não. Nem por aí. Escolho por caminhar noutro. Este.
    Que só tem uma saída e uma entrada, que não são a mesma. O caminho onde serei aquilo que pretendo, mesmo que com isso seja o que não sou e, tão pouco, fui.
    Enveredo por este caminho, sigo as pegadas de ninguém por onde nunca andei, e dirijo-me para onde nunca estive. E sei que vou bem.

    nova etapa segunda-feira, setembro 13, 2004 |

    consegui!
    consegui reunir as condições necessárias para (re)ingressar no ensino superior, desta feita em biologia! estando as apresentações e os reconhecimentos feitos, este ano é (mesmo) a valer!

    live sexta-feira, setembro 10, 2004 |

    Olival Rock, Nagosela (Santa Comba Dão), dias 10 e 11 de Setembro

    dia 10

    New Sketch
    July 13
    Voidshape
    Skapula
    Black Sunrise

    - Dj Mouse

    dia 11

    T'Shunk
    SpitOut
    For The Glory
    TwentyInchBurial

    - Dj Hugo

    só bandas nacionais. entrada livre.

    a soledade de só ouvir os talheres a(o) jantar... quinta-feira, setembro 02, 2004 |

    ...
    vezes há em que não me apetece, porque estou a fazer algo que não quero interromper ou porque simplesmente não tenho vontade, sentar à mesa "à hora de jantar" e jantar em conjunto.
    mas ter de me sentar sem ninguém a acompanhar "à (minha) hora de jantar", e jantar sozinho por causa de um "compromisso" parece tão desolador e faz sentir tão só...
    ou fez.
    ou foi só hoje.
    ou foi só hoje que se fez notar mais a ausência de todos...
    ou hoje eu é que andei mais distanciado de todos...
    ou algo me fez andar mais distanciado de todos hoje...
    ou... não sei. só não gosto e não quero é jantar sozinho. assim.

    Tu, no espelho onde me vejo terça-feira, agosto 31, 2004 |

    Olho o espelho. Uma figura, nítida o suficiente, parece olhar para mim. Desvio o olhar. Olho-a nos olhos. Esta frontalidade incomoda-me, escondo-me. Procuro o espelho, e ela ameaça aparecer de novo. “Quem és tu, e porque me persegues?”, pergunta ela. “Isso gostava eu de saber”, digo-lhe. “Eu sou tu”, responde.
    - Tu és eu? E como pode isso ser?.. questiono eu. - Só existo um eu, e esse sou eu! Como dizes que és tu?
    - E quem és tu?
    - Ora! Sou eu! Não me vês?
    - Vejo. E esse que tu vês sou eu, ou melhor, és tu. Eu sou esse tu que tu vês, e eu não vejo. Eu só te vejo a ti e tu só me vês a mim.
    - Não! Estás enganado, eu vejo-me a mim! Nem te vejo, nem te conheço! Eu só posso ser uma pessoa, que tu não és. Tu podes ser tu, mas não és eu! Não podem existir duas pessoas iguais. Podem existir duas muito semelhantes, mas não passa disso, semelhanças.
    - E quem te disse que somos iguais? Por acaso já te viste a ti? Não serei eu quem tu vês no espelho, e não tu?
    Saí. Toda esta conversa, que não passava de baboseiras, estava a deixar-me desconcertado. Ele também não se despediu.

    “Por acaso já te viste a ti? Não serei eu quem tu vês no espelho, e não tu?”. Apesar de tudo, esta questão perturbava-me realmente.

    Mas não serei eu apenas uma só pessoa, não terei eu apenas uma só imagem? Se não, quantos mais eu existirão? E serão todos iguais uns aos outros, ou serão todos diferentes, de mim e deles próprios? E ele? Quantos ele existirão?
    Ele só existe ele, mas eu existem muitos. E a ele só o conheço eu. As outras pessoas não o conhecem a ele, conhecem-me a mim.
    E com as outras pessoas, acontecerá o mesmo? Quantos eu existirão para elas? Assim como para mim só existe um elas, para elas só existe um eu, o seu eu, diferente do meu eu e do eu de outra pessoa.
    Então, ninguém me conhece, pelo menos como eu me conheço. Só conhecem a sua representação do que eu sou, e eu só conheço a minha. E mesmo que tentassem transmitir-me a sua representação do que eu sou, nunca me poderia conhecer com eles me conhecem, apenas conheceria a minha representação da sua representação do que eu sou.
    Por certo eu existo, e diferente de cada, em cada um que me conhece, e em cada um que me só viu. Eu sou tantos quantos as pessoas que me conhecem e que me viram. E como posso ser tantos e ser eu ao mesmo tempo?... ser eu e ser tantos ao mesmo tempo é a mesma coisa…
    Como poderemos então gostar de alguém, mesmo conhecer alguém se ela pode ser tantas pessoas diferentes? Não as conhecemos, nem gostamos delas. Conhecemos e gostamos do que elas são para nós. Assim como elas conhecem e gostam do que nós somos para elas.

    Olho o espelho. “Tu de novo?”. Sorrio.
    - Gostava de me conhecer como tu me conheces…
    - Eu também., diz a figura.

    E saio.

    NOTA: ideia original in Um, Ninguém e Cem Mil de Luigi Pirandello.

    sexta feira (uma noite) segunda-feira, agosto 23, 2004 |

    - já são oito menos vinte! é melhor arrancarmos, senão ainda chegamos e aquilo já começou!..
    - oh, mas eu estou cheio de fome, ainda comia qualquer coisa!
    - também eu, mas..
    - e eu!
    - e eu!
    - então tá, vamos comer qualquer coisa só para não ir de estomago vazio, e arrancamos!

    - que horas são?, pergunto eu.
    - são oito horas agora!
    - xii, já é tarde! isso não vem, ou quê?
    chega a comida: dois pratos, um com três sandes, e o outro com duas. sande de perna de porco no espeto. bem, podia estar melhor!..
    - olha a horas! vamos comendo pelo caminho!

    no carro:
    - bolas!, onde é que fica Moimenta da Beira afinal!? já andámos tantos quilómetros e nem uma placa!..
    - por este andar já só vamos ver eles a arrumarem o material!

    - ...já são dez e vinte... o concerto já deve ter começado!
    - não!, aquilo atrasa sempre um bocado!
    - esperamos!

    " <- Rockdemo"
    - olha, é à esquerda! vira à esquerda!
    umas centenas de metros mais à frente, outra placa. estamos a ir bem!

    depois de duas horas de viagem, com duas paragens para pedir informações e saber se estávamos a ir bem encaminhados, chegamos ao recinto!
    hora: 10h 30
    - oh, ainda não começou!

    (o tempo passa.. o recinto vai-se compondo, mesmo assim muito aquém das expectativas. entre as pessoas que vão entrando, um ou outro são conhecidos...e, que frio!!!)

    - são onze e meia, estes gajos de Moimenta abusam, pá!

    hora: 00h 00
    no fim do soundcheck: - boa noite! bem vindos à segunda edição do Rockdemo! estes são os More Than A Thousand e vão abrir o espectáculo!

    actuam durante cerca de meia hora/ quarenta minutos, onde apresentam o seu novo EP "Trailers Are Always More Exciting Than Movies", fazendo algumas passagens ao EP anterior "Those In Glass Houses Shouldn't Throw Stones".
    apesar de se terem enganado numa música logo no início (assim pareceu, pelo menos!..), o concerto não foi mau, pelo contrário! mas já assisti a melhores concertos deles. mas o público também não ajudou... eramos poucos e estavamos todos muito dispersos...
    fecham o concerto com "None Of Us Will See Heaven", sendo a melhor música do concerto.

    a seguir actuavam os TwentyInchBurial e, pelo que tinha ouvido deles, estes rapazes prometiam! e não foram goradas as expectativas! foi o melhor concerto da noite! que presença a do vocalista! nunca os tinha visto ao vivo, mas foi muito porreiro!
    entre antigas músicas mais aplaudidas e melhor conhecidas do EP "The Void We Carry" e novas músicas do novo albúm "How Much Will We Laugh And Smile", deram um excenlente concerto de cerca de quarenta minutos. pedia-se mais!

    (entre os concertos, o local de eleição, pelo menos para nós, era o carro! estava um frio de rachar!)

    a terceira banda eram os The Temple. só tinha ouvido uma música deles, e tão pouco os tinha visto alo vivo alguma vez! não me convenceram... à excepção do baterista que parece ser muito bom tecnicamente! mas o som no conjunto... foram a banda mais aplaudida e em que se notou maior movimento o recinto, mas não o melhor concerto, quanto a mim. apresentaram o novo trabalho "Diesel Dog Sound", sendo, no entanto, as músicas antigas aquelas que maior feedback tiveram por parte do público.

    pelas três horas, terminavam o espectáculo. ainda faltava actuar a banda Heavenwood, mas nós ainda tinhamos duas horas de caminho, resolvemos vir embora.
    a curiosidade também não era muita...

    mas apesar de longe, valeram a pena os tantos quilómetros e a espera!


    zebras segunda-feira, agosto 02, 2004 |

    as zebras... qual a cor das zebras?
    são brancas com listas pretas?, ou são pretas com listas brancas?
    é curioso, para os habitantes de muitas tribos africanas elas são pretas com listas brancas...
    fica aqui a questão.

    desculpa... |

    "vem ter comigo ao J., preciso muito falar contigo...", disse-lhe ele. as saudades dele eram já insuportáveis, e a necessidade de o tocar, de o sentir era quase palpável. as coisas não iam bem, e esta frase lida causara-lhe um aperto tão grande...
    "vamo-nos sentar ali para conversar? tenho algo muito importante para te dizer...", disse-lhe ele, antes de nem um beijo que dissesse "olá!".
    por entre palavras soltas e carícias aumentava a tensão, tornava-se cada vez mais difícil respirar... e esta sensação de mau estar na barriga... nem ela com coragem para perguntar "que me queres dizer de tão importante?", nem ele com alento para lhe contar o que tinha tido o denodo de decidir contar-lhe... outra frase solta, mais uma carícia...um riso de vez em quando...
    "ah,.. não me olhes assim nos olhos, torna-se mais difícil para mim e tenho de arranjar coragem!", pediu-lhe ele.
    - está bem, concordou ela, após o que desviou o olhar.
    respirou fundo. ambos os corações batiam ao mesmo ritmo, apesar de acelerado.
    - eu beijei outra rapariga, confessou-lhe ele.
    (mas... dito assim, desta forma tão peremptória?, perguntou-se ela)
    adivinhara-se o fim, mas por qualquer outra razão... não esta. não podia ser verdade, ele não podia não estar a mentir. mas aquela incapacidade de olhar nos olhos, aquela incerteza do olhar pareceu-lhe tão incontestável. dissipava-se qualquer dúvida...
    o silêncio, e tão pesado mas ao mesmo tempo nada embaraçoso que era, instalou-se por um instante.
    depois... uma lágrima, e um "desculpa...". outra lágrima, agora deixada fugir por ele.
    "nunca pensei", murmurou ela. "sabia que a partir de hoje deixaríamos de ser nós, mas nunca, não, nunca por esta razão... não te achava capaz disto...", prosseguiu, soluçando, à medida que lhe escorriam lágrimas pelo rosto. ele, em silêncio, ia-as enxugando.
    "quem é ela?", procurou saber ela.
    - ahh, não conheces..., respondeu ele.
    - mas... já não gostas de mim?
    - sim, gosto... mas... não sei... estou confuso...
    (porque não disseste logo que não? não teria sido tão doloroso, acha ela)
    - apaixonaste-te por ela, vão namorar?
    - não, não! mas... estou confuso agora, não sei que sinto...
    "desculpa", pediu ele de novo.
    outra lágrima, deixou cair ela...e ele também...

    ... e teria sido uma tarde de verão como as outras... e teriam os restantes dias de verão sido diferentes, não lhe tivesse ele dito isto... não tivesse isto acontecido... pensa ela.

    Raiz da Árvore

    Por favor, não deixes a Árvore secar. Rega-me.

    © 2007 Francisco